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PADRE JOSÉ VENÂNCIO: AMIGO DOS POBRES DO RECIFE

No início do século 20 era a terceira cidade mais populosa e uma das mais importantes do Brasil. A industrialização e o comércio cresciam, embalados pela privilegiada posição geográfica de uma das capitais mais ricas e também com maior número de pobres mendigando pelas ruas. Foi nesse cenário de contradições que o Padre José Venâncio de Melo trabalhou para reduzir a contradição e minorar o sofrimentos dos excluídos. As suas dezenas de obras ajudaram muita gente e continuam na memória ou servindo de apoio para os sofredores da nossa terra.

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Vivemos o tempo de cuidar. Cuidar da vida, da família, da saúde e do próximo. Cuidar dos pobres e sofredores que se multiplicam nesses dias difíceis. Dias que exigem gestos de solidariedade, caridade e doação.

 

Na história do Recife há muitas pessoas que dedicaram suas vidas à virtude da Caridade, cujos exemplos podem nos servir de modelos para inspirar ações urgentes.

 

Uma dessas pessoas é o Padre José Venâncio de Melo, sacerdote da Congregação da Missão, eternizado na memória dos moradores dessa cidade lendária – principalmente das famílias de origem mais humilde e que habitam os nossos pobres e esquecidos bairros populares.

 

O Padre Venâncio nasceu no ano de 1866, em Minas Gerais. No dia 27 de janeiro de 1915, chegou ao Recife, então a terceira cidade mais populosa do Brasil. A pobreza nordestina, as favelas e a miséria que levava centenas de pessoas a mendigar pelas ruas da cidade, chamaram a atenção do padre Lazarista, seguidor fiel de São Vicente de Paulo, o patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica .

 

Impressionado com o “triste espetáculo” da mendicância das ruas recifenses, ele encontrou apoio no Arcebispo de Olinda, Dom Sebastião Leme, para iniciar o seu trabalho missionário, fazendo-se muitas vezes de pedinte junto aos ricos, para socorrer os pobres. Esta era a maneira mais utilizada para obter donativos, inspirada na prática de outros homens da Igreja, como o próprio Vicente de Paulo.

 

“Dar de comer a quem tem fome é melhor do que construir um edifício” e “as construções devem servir para nelas se recolher o maior número de necessitados e não para serem admiradas e louvadas” são ideias que orientaram o Padre Venâncio no seu trabalho de amparo aos mais pobres, que tinham nele um verdadeiro amigo e consolador.

 

Fiel ao que pregava, ampliou o quanto foi possível o alcance das suas ações. Humilde e dedicado ao extremo, atendeu a um número incalculável de pessoas de todas as faixas etárias e edificou, organizou e criou diversas instituições, organismos, escolas e casas de acolhida.

 

O Dispensário São Sebastião foi a primeira obra fundada pelo Padre Venâncio no Recife. A finalidade era dispensar socorro aos necessitados. Chamou-lhe São Sebastião em homenagem ao Arcebispo animador de suas iniciativas. A inauguração deu-se em janeiro de 1917 no prédio localizado ao lado da Igreja de São Gonçalo, nos Coelhos. No começo, distribuía gêneros alimentícios, depois roupas e outros objetos. Em seguida, o Dispensário São Sebastião manteve “três classes de aulas”: para crianças filhas de mendigos aprenderem a ler, escrever, coser e bordar; para “meninas e moças aprenderem os misteres domésticos”; e a terceira para as mulheres com aulas de cozinha, corte e costura.

 

No mesmo ano, inaugurou um albergue noturno ao lado do Dispensário, para servir aos que não tinham onde dormir, e de abrigo para quem chegava de longe em busca de atendimento no Hospital Dom Pedro II - uma necessidade que hoje ainda, 104 anos depois, podemos perceber nas calçadas das redondezas.

 

Muitas e muitas obras vieram em seguida. Houve tempo em que 14 delas estavam em funcionamento, recebendo, ajudando, apoiando e educando os pobres.

 

O Padre Venâncio foi o inspirador e cofundador do Instituto das Filhas de Maria Servas da Caridade, Família Religiosa que merecerá em breve um capítulo especial nesta página.

 

Fundou também a Companhia de Caridade, outra instituição que terá uma merecida edição neste espaço.

 

Mas, vale destacar a preocupação do Padre Venâncio como Educador, um dos aspectos a que dedicava os maiores cuidados e estudos, pois, como deixou registrado, “a instrução é a melhor das beneficências”.

 

Podemos citar, entre as suas obras que ficaram na história do Recife: a Escola Doméstica Dona Maria Borba, Instituto Profissional São José, Albergue Noturno, Rouparia dos Pobres, Escola Santo Antônio, Escola Santa Teresa, Albergue Pinho Alves, Escola Agrícola, Escola São Vicente de Paulo, Patronato de Afogados, Casa dos Pobres e Asilo da Velhice – ainda em funcionamento, no bairro da Várzea, com o nome de Centro Geriátrico Padre Venâncio.

 

Outra de suas grandes realizações e ainda hoje cumprindo a missão de servir aos mais pobres é o prédio de nº 317 da Rua dos Coelhos (na foto acima), que desde então já abrigou inúmeras entidades, grupos, cursos, escolas e oficinas.

 

Nestes tempos de pandemia e aumento da pobreza, merecem ser lembradas as ações do Padre Venâncio juntos aos pobres do Recife em 1918, durante a gripe espanhola, causada pelo vírus influenza. Mas isso é outra história, que contaremos depois.

 

Falecido aos 13 de março de 1938, o Padre José Venâncio de Melo plantou uma valiosa semente de solidariedade e de caridade durante todos os seus 23 anos de serviço missionário junto aos pobres do Recife.

 

Merece ser mais lembrado pelos católicos da cidade.

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