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Condução mortal

Imagem forte é mesmo com o Brasil. Nisso somos imbatíveis. E quando se trata de ônibus, então, ninguém nos segura.

Principalmente se estamos perto das portas ou se não pudermos pagar a passagem. Aquela, que nos trechos mais baratos anda em torno dos R$ 4,00. Andar é modo de dizer: os preços voam, contrariando as eternas promessas de fazê-los estacionar.

Mas vamos às imagens, todas da internet.

O primeiro vídeo abri sem querer. Na manhã da quarta-feira, dia 6 de março, o ônibus verde, linha 44, faz uma curva fechada na Av. Ernani do Amaral Peixoto, centro de Niterói. Deu para ler o itinerário na fachada: Ititioca. Então a porta do meio se abre e o homem de camisa azul e calça escura é jogado no asfalto. Rola duas ou três vezes e desfalece.

Por alguns segundos o dia tenta seguir seu curso, carros e pessoas em movimento. Mas, enfim, para. Há gente correndo sem saber para onde, como se fugindo do perigo. Até que uma mulher (sempre elas!) se abaixa para examinar e tentar conversar com o homem. Na sequência, ele é transportado pela ambulância dos Bombeiros e levado para um hospital no Fonseca, em Niterói. Mas já chegou sem vida.

O homem, identificado como Carlos Correa, soube-se depois, teria 70 anos e se desequilibrou no instante da curva. Caiu porque a porta do coletivo da Viação Santo Antônio, linha 44 (Ititioca - Niterói), estava aberta. E porque viajava em pé, apesar dos seus 70 anos.

O segundo vídeo vem de Olinda. No começo da tarde deste domingo, 10 de março, um rapaz de 14 anos viajava entre a porta e o pneu dianteiro do ônibus da linha Terminal Integrado PE 15 / TI Rio Doce. Imprudente, amorcegava o ônibus da empresa Rodotur, prática perigosa, mas comum em Pernambuco. De repente, quando passava pela Av. das Garças, ele escorregou e caiu. Testemunhas disseram que as rodas dianteiras e traseiras passaram sobre o seu corpo e ele morreu no local.

Isto não acabou, infelizmente.

O terceiro vídeo nos transporta de volta ao Rio de Janeiro. Joseires Soares Vincler, de 76 anos, morreu no dia 25 de fevereiro, após embarcar em um ônibus da Viação Palmares, que trafegava com as portas abertas. Segundo testemunhas, o ar condicionado do coletivo estaria com problemas. Para amenizar, o motorista resolveu deixar as portas abertas, para ajudar na ventilação. Tal como Carlos de Niterói, Joseires viajava em pé, mesmo já com 76 anos. Como é comum, ninguém se dignou ceder-lhe o lugar. Mais uma vez desequilíbrio, outra vez porta aberta. E ele caiu na avenida.

Até onde se dá para ver, há uma certa imprudência nos ônibus. De norte a sul. Um certo e acentuado desrespeito com os seres humanos. Um “deixa pra lá” irresponsável e mortal. O Brasil perdeu a compostura. Mas segue em frente, querendo estar acima de tudo e de todos. Só não sabemos, nesse ritmo, quantos de nós chegarão vivos ao final da linha.

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