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Escreva sobre você mesmo

O computador e as horas livres são grandes aliados para você escrever e publicar suas memórias, o que nunca foi tão fácil de fazer. Acho até que cada um de nós deveria praticar esse tipo de escrita, ainda que não publique, apenas como exercício para a mente, espantar a solidão ou os fantasmas que costumam nos atormentar com certas lembranças. Memórias, sim, capítulos de memórias. É a melhor forma de começar a escrever.

Todos nós, que já passamos dos 60 anos, temos muito a recordar, ainda quando apenas para nós mesmos. Vale a pena registrar fatos vividos ou sabidos.

Isso é possível, fácil e não dói. Embora muita gente veja a escrita como desafio e não saiba como dar o primeiro passo. Por isso, a partir de agora, tentarei dar algumas dicas. Para começo de conversa, transcrevo um texto arretado do escritor Graciliano Ramos sobre essa arte em que foi um grande mestre. Fala, Graciliano:

“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa; a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

Bela analogia, concorda? Um bom texto precisa de muitas "lavadas", muitos cortes, quarar, secar... É só fazer com as palavras o que as lavadeiras fazem com os panos na beira do rio. Ou os pedreiros fazem com o projeto arquitetônico: estudam, analisam, medem, reúnem o material necessário, os tijolos, o cimento, e põem mão à obra, começando pelo alicerce. Seguindo a mesma lógica construímos palavras, frases, parágrafos, capítulos... É por aí. Logo mais virão outras dicas.

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