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Médicos exaustos na trincheira

Lição de anatomia do Dr. Tulp. Pintura de Rembrand, 1632

DIÁRIO DA QUARENTENA

Os médicos estão na linha de frente desta guerra contra o vírus que paralisou o mundo. Os doutores chamam de emergência epidemiológica mundial. E sabem melhor do que todos o que de fato significa tudo isso que vivemos nesse começo dos anos vinte.

No Brasil, o número de infectados está dobrando a cada três dias, eles avisam. Eles, que também são vítimas frequentes do contágio, porque nem sempre têm à disposição os indispensáveis equipamentos de proteção individual, e os leitos de retaguarda e de UTI, bem como ventiladores em número suficiente para o atendimento da demanda. Sofrem com as más condições e sobrecargas de trabalho, o estresse e as precariedades que todos conhecemos.

Mas vão agindo dentro dos horizontes possíveis, para fazer o melhor que podem. O importante, para médicos e médicas, é salvar vidas. Em benefício da saúde pública, suspenderam procedimentos mais corriqueiros para se dedicar quase integralmente ao combate da covid-19.

“Às vezes um de nós desmorona. E chora, se desespera sentindo-se impotente diante do flagelo que é esta doença desconhecida. É como uma guerra”, nos disse um médico de um hospital público, fazendo um “apelo desesperado ao público para não ignorar as restrições dos governantes e ficar em casa”.

E quantos deles já contraíram a doença, mundo afora? Não se sabe. Milhares. Só na Itália, há alguns dias eram mais de dois mil médicos e enfermeiros. Todos os demais, no mundo inteiro, correm riscos permanentes de contaminação, para si e seus familiares. Talvez um dia, quem sabe, alguém consiga fazer essa contabilidade terrível, feia, que nos fragiliza e que poderá, queira Deus, concorrer para mudar esse mundo.

Um mundo no qual colocamos muita responsabilidade nas mãos dos médicos e médicas. Muitas vezes, decisões dolorosas, como tem acontecido nesta pandemia: quem recebe tratamentos que potencialmente podem salvar vidas? É demais pesada essa responsabilidade ética, nesses tempos sem precedentes.

Sim, dedicamos minutos de aplausos aos doutores que estão na trincheira do combate à covid-19. Aplausos em sacadas, terraços, redes sociais. Mas isso é nada perto do que eles estão fazendo nesse momento de pânico universal. Que permaneça para sempre na História do Mundo, o papel dos médicos e médicas que doam suas vidas para nos ajudar a viver nesse torpe mundo do século 21.

Obrigado, doutores.

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