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O tempo está nublado


A noite estrelada, pintura de Vincent van Gogh, junho/1889

DIÁRIO DA QUARENTENA

Quinta-feira fria, de nuvens sujas, tempo fechado e tedioso. Batem metais nas janelas da vizinhança. Sons variados. Adivinho daqui, pelo barulho que fazem, os objetos sonoros. Acredito ouvir tampa contra tampa, uma colher de pau num papeiro, um ferro contra um caldeirão dos grandes, uma sineta e até, acreditem, uma vuvuzela, aquela trombeta intragável da copa na África do Sul. Antigamente, as passeatas eram mais animadas.

Voltei a pensar na vida pós quarentena. Faço planos – e contas. Principalmente contas, porque a coisa está ficando, a cada dia, mais séria. Por isso, acordo mais cedo e busco, como nunca dantes, serviços para fazer.

Mas está difícil achar, nesse deserto de jornais, gráficas e editoras de portas cerradas. Contudo, há esperanças, embora o mar definitivamente não esteja para peixe, como era dito.

Tudo bem. Cedo ou tarde o mundo voltará a girar, e as coisas entrarão nos seus eixos. Mesmo que um eixo novo, e com nova rotação. Os empregos serão reduzidos, algumas ocupações encolherão, outras vão desaparecer.

Mas, e as pessoas? Há quem diga que haverá mais reflexão, mais consciência das muitas coisas erradas que andamos fazendo contra o próximo e o meio ambiente. E que o ser humano vai melhorar, dizem os mais otimistas. Deus os ouça.

No entanto, duvido muito. Basta ver o que andam fazendo em plena pandemia. Gente querendo roubar quem está recebendo os 600,00 para comprar comida. Governos desviando máscaras e respiradores de outros países. Golpistas com suas mutretas na internet.

Não. Infelizmente, o ser humano não vai mudar. Seremos aquilo que sempre fomos, com algumas virtudes e muitos defeitos. Tal como o escritor William Shakespeare nos apresentou e traduziu a nós mesmos.

Gostaria de estar mais otimista. Todavia , sinto muito, a realidade se impõe. Por hoje, isso é tudo. E como citei o dramaturgo inglês, encerro com uma frase de sua autoria:

“A sabedoria e a ignorância se transmite como doenças; daí a necessidade de se saber escolher as companhias.” William Shakespeare

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