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Sol de julho

O primeiro dia de julho começou com um escandaloso sol, lançando luz sobre as reentrâncias mais escondidas, curvas mais secretas e todos os planos à vista da minha cadeira no Cordeiro.

Brilhava na abóbada da pia, no tampo gasto do velho birô, na estante de ferro empoeirada e, principalmente, nas paredes oxidadas do condomínio ao lado.

Na tintura amarela e gasta dos quatro andares sobre pilotis, ele foi estampando aos poucos uma claridade cada vez maior e mais ardente, que me obrigou, ofuscado, a fechar metade da janela.

Era um sol de verão, nesta metade inversa do nosso inverno. Antes tempo de chuva, agora o inverno divide o dia com ele, o soberano sol, que toma para si a maior parte das 24 horas. Mas o céu parece não compreender esse seu propósito e, a despeito de toda luz e calor, o seu azul permanece tímido, mortiço, um azul de cemitério que o sol (ainda) não conseguiu despertar.





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